10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas.
Tinha refletido muito sobre este dia, e pensei em
escrever um texto sobre o tema, mas após ouvir o discurso do Presidente da
Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas, Prof. Doutor António Sampaio da Nóvoa, tudo o que
pensei se tornou fraco com discurso de tal qualidade.
Subscrevo tudo no magnífico discurso do Prof. Doutor
Sampaio da Nóvoa, só tenho pena de o Senhor Primeiro Ministro Miguel Relvas, perdão
Passos Coelho, não tenha a humildade e capacidade para entender tão brilhante
declaração.
Conhecendo as minhas limitações, e sabendo que não conseguiria
fazer melhor… Deixo as palavras ditas pelo Prof. Doutor António Nóvoa.
“As palavras
não mudam a realidade. Mas ajudam-nos a pensar, a conversar, a tomar
consciência. E a consciência, essa sim, pode mudar a realidade.
As minhas
primeiras palavras são, por inteiro, para os portugueses que vivem situações de
dificuldade e de pobreza, de desemprego, que vivem hoje pior do que viviam
ontem.
É neles que
penso neste 10 de Junho.
A regra de
ouro de qualquer contrato social é a defesa dos mais desprotegidos. Penso nos
outros, logo existo (José Gomes Ferreira). É o compromisso com os outros, com o
bem de todos, que nos torna humanos.
Portugal
conseguiu sair de um longo ciclo de pobreza, marcado pelo atraso e pela
sobrevivência. Quando pensávamos que este passado não voltaria mais, eis que a
pobreza regressa, agora, sem as redes das sociedades tradicionais.
Começa a
haver demasiados “portugais” dentro de Portugal. Começa a haver demasiadas
desigualdades. E uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e
pela radicalização.
Façamos um
armistício connosco, e com o país. Mas não façamos, uma vez mais, o erro de
pensar que a tempestade é passageira e que logo virá a bonança. Não virá. Tudo
está a mudar à nossa volta. E nós também.
Afinal, a
História ainda não tinha acabado. Precisamos de ideias novas que nos deem um
horizonte de futuro. Precisamos de alternativas. Há sempre alternativas.
A arrogância
do pensamento inevitável é o contrário da liberdade. E nestes estranhos dias,
duros e difíceis, podemos prescindir de tudo, mas não podemos prescindir nem da
Liberdade nem do Futuro.
O futuro,
Minhas Senhoras e Meus Senhores, está no reforço da sociedade e na valorização
do conhecimento, está numa sociedade que se organiza com base no conhecimento.
Há a
liberdade de falar e há a liberdade de viver, mas esta só existe quando se dá
às pessoas a sua irreversível dignidade social (Miguel Torga).
Gostaria de
recordar o célebre discurso de Franklin D. Roosevelt, proferido num tempo ainda
mais difícil do que o nosso, em 1941. A democracia funda-se em coisas básicas e
simples: igualdade de oportunidades; emprego para os que podem trabalhar;
segurança para os que dela necessitam; fim dos privilégios para poucos;
preservação das liberdades para todos.
Numa situação
de guerra, Roosevelt sabia que os sacrifícios têm de basear-se numa forte
consciência do social, do interesse coletivo, uma consciência que fomos
perdendo na vertigem do económico; pior ainda, que fomos perdendo para
interesses e grupos, sem controlo, que concentram a riqueza no mundo e tomam
decisões à margem de qualquer princípio ético ou democrático. É uma “realidade
inaceitável”.
Em mar de
águas revoltas, é preciso manter o rumo, ter a sabedoria de separar o acessório
do fundamental. A Europa não é uma opção, é a nossa condição. Uma Europa com
uma nova divisa: liberdade, diversidade, solidariedade.
A Europa é o
nosso futuro, mas não nos iludamos. Ou nos salvamos a nós, ou ninguém nos salva
(Manuel Laranjeira). Falemos, pois, de Portugal e dos portugueses.
Pelo Tejo
fomos para o mundo… mas quantas vezes estivemos ausentes dentro de nós?
Preferimos a Índia remota, incerta, além dos mares, ao bocado de terra em que
nascemos (Teixeira de Pascoaes).
A Terra ou o
Mar? Portugal ou o Mundo? A pergunta foi feita por todos aqueles que pensaram
Portugal.
No final do
século XIX, um homem da Geração de 70, Alberto Sampaio, explica que as nossas
faculdades se atrofiaram para tudo que não fosse viajar e mercadejar. Nunca nos
preocupámos com a agricultura, nem com a indústria, nem com a ciência, nem com
as belas-artes. As riquezas que fomos tendo “mal aportavam, escoavam-se rapidamente,
porque faltava uma indústria que as fixasse”, e o património da comunidade,
esse, “em vez de enriquecer, empobrecia”.
Nos momentos
de prosperidade não tratámos das duas questões fundamentais: o trabalho e o
ensino. Nos momentos de crise é tarde: fundas economias na administração
aumentariam os desempregados, e para a reorganização do trabalho falta o
capital; falta o tempo, porque a fome bate à porta do pobre. Então a emigração
é o único expediente: silenciosa e resignadamente cada um vai partindo, sem
talvez uma palavra de amargura.
Este texto
foi escrito há 120 anos. O meu discurso poderia acabar aqui. Em silêncio.”
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