Há uma ligação
muito estreita entre a adoração da acção e o uso do homem como meio de
atingir fins que não são o homem. Como há uma ligação aproximada entre
este desespero e a acção, entre a razão e a acção. A proeminência dos
valores da acção sobre os da contemplação indica, sobretudo, que o homem
abandonou totalmente a busca duma ideia aprazível do homem e o desejo
de o colocar como fim. E que na impossibilidade de agir segundo um fim,
ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas
para agir.O homem de acção é um desesperado que procura preencher
o vazio do seu próprio desespero com actos ligados mecanicamente uns
aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de
conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto
de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa
fabricação. O homem de acção suspenderá o seu desespero enquanto durar a
fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu
espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana:
sente-se meio entre os outros homens, meios como ele. Concluída a
máquina ele encontrar-se-á, é verdade, mais inerte e exânime que a
própria máquina, mas arrolhará subitamente com uma promoção, com uma
medalha, um pagamento a dobrar, ou simplesmente com a construção de um
novo automóvel. Efectivamente apresentar-se-á a envolver-se no fluxo
alienatório da acção.
Alberto Moravia, in "O Homem Como Fim"
Alberto Moravia, in "O Homem Como Fim"
2 comentários:
Eu tenho algumas imagens do Homer no meu blog se quiseres ver.
Já vou tratar disso ;) Obrigado ;)
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