segunda-feira, 23 de julho de 2012

Manifesto: Solução Interior



            Há um crescente número de cidadãos do interior do país que começa a deixar de se sentir parte integrante da República que consta dos seus documentos. O Estado está a votar uma enorme parte de Portugal ao abandono. A coesão territorial (e social, consequentemente) está à beira do colapso.
             Este Governo tem uma solução para os problemas do interior – acabar com o interior. Tal estratégia é bem clara para as populações que sentem, diariamente, o despudor com que lhe são retiradas escolas, centros de saúde, maternidades, correios, finanças, juntas de freguesia, tribunais (há concelhos que não são suficientemente criminosos para merecerem ter um tribunal junto das suas pessoas!!!), etc.. Os caminhos-de-ferro são desativados, as autoestradas portajadas a preços insultuosos, a água paga-se mais cara. Os investimentos feitos ao longo das últimas décadas são agora, de uma vez e irrefletidamente, desaproveitados por via do esvaziamento de pessoas.
            Cada vez é mais evidente que o Estado nos berra aos ouvidos para abandonarmos estas terras, estas terras que durante tantos séculos deram o peito para que Lisboa fosse capital de alguma coisa, que durante tantos outros alimentaram as metrópoles com mantimentos, braços e cérebros que ajudaram Portugal a ser Portugal. Para o Governo esta terra já não interessa, abandonem-na aqueles que puderem. Quem ordena o território nacional é a “mágica” e “infalível” mão invisível!
            E no meio deste vórtice, eis que nos apercebemos de um estrondoso paradoxo. No interior há mais qualidade de vida. Dados recentes mostram que no interior se vive com mais segurança, qualidade ambiental, tempo, espaço, laços comunitários de solidariedade, tudo sem descurar a centralidade que as TIC vieram oferecer a territórios outrora isolados (o mundo é uma aldeia global). É ilógico mas é verdade: o Governo está a esvaziar o território que dá mais qualidade de vida aos portugueses e a empurrá-los para territórios onde se vive com menos qualidade, precisamente por causa da pressão demográfica insustentável que os mesmos têm suportado nas últimas décadas – os gigantescos subúrbios das metrópoles.
            Deste modo, as Federações Distritais da Juventude Socialista envolvidas no projeto Interiormente (www.interiormente.org) repudiam frontalmente esta miopia territorial evidenciada por um executivo que segue apenas os dogmas ultraliberais. Num contexto civilizacional em que a economia de casino nos parece ter levado até à beira do precipício social e ambiental, o interior é bem capaz de não ser um problema do país, mas a sua solução.
Nota: Apenas uma minoria dos portugueses vive no interior. As suas aldeias estão desertificadas, as vilas têm pouca gente e as cidades são de pequena dimensão. No entanto, de norte a sul, ainda há mais de 2 milhões de portugueses que vive em regiões desta natureza. São mais de 2 milhões de vidas, mais de 2 milhões de cabeças e vontades. Separados somos insignificantes minorias, juntos temos o mesmo peso que uma área metropolitana do país. Poderia o Estado desprezar a Grande Lisboa? Poderia desprezar o Grande Porto? Um Portugal oco não sobreviverá.           

. Federação Distrital da JS Guarda
. Federação Distrital da JS Bragança
. Federação Distrital da JS Vila Real
. Federação Distrital da JS Viseu
. Federação Distrital da JS Coimbra
. Federação Distrital da JS Castelo Branco  
. Federação Distrital da JS Leiria
. Federação Distrital da JS Portalegre  
. Federação Distrital da JS Évora
. Federação Distrital da JS Baixo Alentejo 

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou inteiramente de acordo com este texto. Vivo no Interior (Bragança) e revejo-me nestas palavras. Sinto que cada vez mais me empurram para um litoral que eu não quero, sinto-me insultada, desrespeitada. De facto, cada vez me revejo menos no país de que os senhores de Lisboa tanto falam. O meu país, o interior, está a ser lentamente morto...

Elsa A.

Anônimo disse...

Subscrevo na totalidade este texto. Vivo no interior(Bragança) e revejo-me cada vez menos na República de que também, supostamente, faço parte e para a qual contribuo com os meus impostos. Sinto-me cada vez mais empurrada para um litoral que não desejo, sinto-me insultada e desrespeitada por aqueles que, em teoria, representam TODOS os portugueses. O meu país, o interior, está a ser lenta e intencionalmente morto pelos senhores de Lisboa...

Elsa A.