sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A INVEJA



Bom, e agora passo a escrever o que para mim tem grande significado; “A Inveja”, na mitologia representaram a inveja como Velha Heudionda, da cara torcida e sombria, olhos vesgos, de cor indecisa com a cabeça coroada de serpentes, das quais uma mordendo-lhe a língua. A velhice Simboliza a antiguidade do seu ódio à virtude; as serpentes da cabeça simbolizam as suas ideias; e a que aperta numa das mãos, o seu comportamento com o próximo, inoculado veneno onde quer chega. Ao passo que a da outra significa o mal que faz a si mesmo ao procurar ferir o semelhante.
Giotto consagrou, na tela, em cores indeléveis essa figura abominável que os moralistas filósofos, teólogos e cientistas consideraram um dos inimigos mortais da espécie Humana.
Aristóteles, São Tomas de Aquino, Descartes e Bacom, para só falar de expoentes máximos deixou-nos da inveja explicações terríficas. Em religião, ela é um pecado mortal, os filósofos atribuem-lhe estragos medonhos no organismo Humano, que vão das perturbações mentais, passando por lesões viscerais, até à atrofia do coração inquieto e envenenado.
Os que da inveja e dos invejosos têm tratado, através de grandes símbolos, que vêm de caim a pobres dicibos sem história dos nossos dias insistem nos malefícios que a inveja acarreta ao próprio individuo, tanto no ponto de vista moral como no aspecto filosófico, mas têm-se esquecido, a nosso ver, de assinalar devidamente os estragos irreparáveis que a inveja causa na sociedade, sobretudo, nos meios intelectuais, perturbando a ordem natural das coisas e diminuindo sensivelmente as possibilidades Humanas.
Metade pelo menos das energias do Homem de Mérito são consumidas na luta inglória contra a inveja e o ódio dos medíocres, se a estatística não fosse uma ciência hemopatia, há muito que a Humanidade estaria horrorizada com os estragos incríveis produzidos nas suas melhores fileiras, por diversas paixões diabólicas, à frente das quais devemos colocar a inveja.
Conhecem-se na verdade miudamente graças ás estatísticas, os estragos produzidos na espécie Humana, desde a mais remata antiguidade, por vírus terríveis; contam-se por milhões os seres Humanos perdidos, na roda do ano, para as ciências, para as letras para as artes, para o trabalho, em virtude de grandes flagelos invencíveis; e até se consegue apurar, por números seguros, quantos milhões de indivíduos sucumbem anualmente, às picadas venenosas dos répteis traiçoeiros…
Só não temos números nenhuns acerca dos prejuízos monstruosos que a inveja dia a dia, no agregado social, apesar de as perdas ocasionalmente por este vírus imortal, no fundo, bem mais graves do que aquelas como se sabe, a invidia, filha do orgulho e da paixão, traduz-se por um profundo pesar do bem que outrem goza o facto de outro ter que o invejoso desejaria possuir realça a sua própria inferioridade, que lhe não permitiu a distinção do invejado, levando-o por isso, desesperado a todas ignominias.
Bossuet, entendia que o que o homem menos desculpa no próximo é a superioridade intelectual, e este ódio à inteligência, esta ofensiva ao talento, são a substância vil de que se nutre a pior das invejas até agora conhecidas.
No mundo intelectual, a inveja é a arma dos medíocres, o hábito das almas podres. Ela esta na base de todas as grandes subversões sociais, incompatível com a harmonia, o belo e o bem, ofende a justiça e o direito opõe-se à hierarquia dos valores, nega o amor do próximo e inimiga de Deus e constitui a expressão viva do próprio mal.
O invejoso é sempre um revoltado pronto a toda a actividade anárquica contra a ordem do criador.
No fundo que move a sua paixão cega é um específico autor das coisas e dos seres, por ele ter distinguido indivíduos que o invejoso julga serem-lhe inferiores; não se trata, por isso, tanto de agredir o próximo como de acusar o criador de injusto e imperfeito na sua obra, vitima imediata é o mero agente físico em que o indivíduo ceva a sua raiva na própria divindade. Razão tinham, portanto, os teólogos medievais considerando-a invejosa, como representação viva do demónio, permanentemente contra a ordem natural das coisas e dos seres, cujo objectivo final é a subversão de valore, encontra na inveja Lúcifer é a inveja personalizada.
A insurreição permanente contra a ordem natural das coisas e dos seres, cujo objectivo final é a subversão de valores, encontra na inveja a sua arma mais poderosa e tem nos invejosos soldados capazes de tudo. Por causa da inveja têm-se perdido na sombra, através dos séculos, candais preciosos de energias físicas e morais, invertendo-se, muitas vezes, a ordem dos valores, com prejuízos enormes para o avanço do progresso e o triunfo da verdade e da justiça. O invejoso para quem toda a organização natural da sociedade não passa de consagração violenta da força que o obriga a suportar injustiças clamorosas trabalha por isso, contra um mundo que admira noutros o que nele não quer ver, procurando impor a transferência dos méritos para se fazer justiça a si mesmo. E enquanto não chega o reinado da inveja que há-de proceder a essas transferências colectivas, o invejoso prossegue uma luta covarde, asquerosa, contra os detentores do que julga pertencer-lhe.
Deste modo, a inveja tem feito perder grandes batalhas dando as mãos ao inimigo, nos momentos decisivos; só para que o combate não saia do campo aberto de lucros; conseguiu, muitas vezes, através da história afastar do príncipe os seus melhore conselheiros e servidores, aposta que uns e outros não consolidassem uma ordem aposta às suas finalidades.
Crestou à nascença, com a sua baba corrosiva, muitas ideias em botão, grandes sombras de beleza, estacando aspirações elevadas e abafando na intriga e na calúnia entusiasmos gloriosos e possibilidades criadoras; e sempre que entrou nas grandes e nos ricos.
Transformou o gládio do poder numa luta contínua das suas vítimas, fazendo do dinheiro carrasco da inteligência e sepulcro do espírito. Diz o povo que nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou; e nós julgamos impossível conseguir-se uma síntese mais perfeita dos grandes malefícios da inveja. Na verdade, o invejoso estabelece à sua roda uma zona de irradiações maléficas. Dentro do qual a vida se torna insuportável na área do individuo não há graça, paz ou amor.



LOR P