terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Explicações de Sócrates não foram suficientes


O processo Freeport está a abrir brechas na credibilidade de José Sócrates. A esmagadora maioria dos inquiridos na sondagem (61%) acham que o primeiro-ministro deixou coisas por esclarecer. E uma percentagem significativa (43%) não acredita que não tenha havido favorecimento.
José Sócrates já convocou a Comunicação Social por duas vezes, para falar sobre o processo Freeport. A primeira, há pouco mais de uma semana, na Alfândega do Porto. A segunda, no Palácio de S. Bento, residência oficial do primeiro-ministro, na quinta-feira passada. No entanto, e a julgar pela sondagem telefónica que a Universidade Católica realizou durante o último fim-de-semana, José Sócrates não convenceu os portugueses. Entre os 84% de inquiridos que ouviram falar do caso Freeport, a esmagadora maioria (61%) entende que o primeiro-ministro deixou coisas por esclarecer. Apenas uma pequena franja (18%) se sente completamente esclarecida.
Pior ainda, são também em maior número os portugueses que entendem que houve alguma espécie de favorecimento no processo de aprovação do Freeport. Quando confrontados com a afirmação de José Sócrates, segundo o qual não houve favorecimento, são 43% os que dizem não acreditar no primeiro-ministro. Quase o dobro dos que acreditam (23%). Sendo que um terço dos inquiridos (32%) não é capaz de opinar sobre matéria tão sensível.
Quando se cruzam estas questões com a identificação partidária dos inquiridos, os resultados são diferentes. Entre quem não tem simpatia por qualquer partido, como entre os que a têm por partidos de oposição, a desconfiança face a José Sócrates aumenta. Mas mesmo entre os simpatizantes socialistas se nota que a imagem do também secretário-geral do PS está fragilizada. Se é verdade que 45% dos inquiridos se sentem esclarecidos, são quase tantos (37%) os que não estão. Os que acreditam que não houve favorecimento são 48%, mas ainda há 21% que respondem em sentido contrário. Resumindo, apenas metade dos simpatizantes socialistas parece manter confiança absoluta no líder do PS.
Tendo em conta as respostas anteriores, facilmente se concluiria que a opinião sobre José Sócrates não seria a melhor por estes dias. Embora 50% não tenha registado mudanças (a sondagem não esclarece se a opinião era boa ou má), são muitos mais os que apontam uma mudança de opinião para pior (31%) dos que os que escolhem para melhor (8%).
No que José Sócrates parece estar a ser relativamente eficaz é na retórica sobre a "campanha negra" de que diz estar a ser alvo. A maior fatia de inquiridos (38%) está de acordo, embora se registe um empate técnico (36%) com quem não subscreve tal argumento. E, aqui sim, funciona em pleno a solidariedade partidária, uma vez que são 72% os simpatizantes socialistas que também alinham na tese da cabala.
Os dotes comunicacionais de José Sócrates ficam claramente confirmados nesta sondagem. Porque, independentemente do que pensam sobre o processo Freeport e sobre o envolvimento directo do primeiro-ministro, os inquiridos não penalizam a sua actuação neste assunto. Se excluirmos os que não sabem ou não respondem, a amostra divide-se rigorosamente ao meio entre os que acham que Sócrates tem agido bem ou muito bem e os que acham que tem agido mal ou muito mal.